A arte ajuda o estudo da medicina

A arte ajuda o estudo da medicina

O interesse pela integração das artes e das ciências humanas na formação médica não é nenhuma novidade. Vários programas em diversos países agora oferecem (ou exigem) que os estudantes de medicina tenham aulas em disciplinas de artes ou ciências humanas para ajudar a adquirir as aptidões fundamentais para o bom atendimento clínico, como a observação, o pensamento crítico, e a empatia. Até hoje, contudo, poucos estudos avaliaram formalmente o efeito desse tipo de capacitação especificamente na competência clínica.
Atualmente, um estudo randomizado e controlado publicado na edição de janeiro do periódico Ophthalmology fez exatamente isso. A Dra. Jaclyn Gurwin, médica residente de oftalmologia da University of Pennsylvania Perelman School of Medicine , na Filadélfia, e colaboradores, descobriram melhora importante da capacidade de observação entre os estudantes que fizeram cursos formais de observação em artes, em comparação com os estudantes que não os fizeram.
“Este artigo é importante porque demonstra que um programa estruturado de observação artística melhorou a capacidade de observação de imagens clínicas de estudantes do primeiro ano de medicina”, disse o Dr. Barry S. Coller, médico, vice-presidente de assuntos médicos, chefe de equipe, e David Rockefeller Professor of Medicine da Rockefeller University, na cidade de Nova York. O Dr. Coller ajuda a lecionar no Pulse of Art Course, na Icahn School of Medicine at Monte Sinai, curso projetado para aprimorar a capacidade de observação por meio do estudo da arte e da história da medicina.
No estudo em tela, os pesquisadores distribuíram aleatoriamente 36 estudantes de medicina do primeiro ano para um grupo de curso de arte (N = 18) ou para um grupo de controle (N = 18). Os alunos do grupo do curso de arte participaram de seis sessões, durante três meses, de observação artística personalizadas para o grupo, realizadas no Philadelphia Museum of Art.
Cada sessão de arte durou 1,5 hora e foi ministrada por educadores profissionais do museu, usando um método denominado Artful Thinking, que começa com a aproximação de uma obra de arte com introspecção e observação, antes da interpretação. As sessões incluíram aulas sobre os princípios da arte, o vocabulário usado nas descrições artísticas, observação descritiva, comparação e interpretação. Os alunos do grupo de controle não fizeram nenhum curso de arte.
Para avaliar o efeito do curso de observação artística, todos os alunos no estudo fizeram testes pré e pós-intervenção. Os testes solicitavam aos alunos que descrevessem por escrito as suas observações de três diferentes tipos de imagens: imagens artísticas, imagens da retina e imagens da parte externa dos olhos exibindo doença ocular ou periocular.
Utilizando critérios predeterminados específicos para cada tipo de imagem, os testes foram classificados por dois oftalmologistas e um estudante do quarto ano de medicina (imagens da retina e externas do olho) ou educadores de arte (imagens artísticas). Os pontos foram atribuídos à identificação de observações específicas, determinadas no guia de classificação de cada tipo de imagem. Por exemplo, a rubrica de imagens da retina concedia pontos para a descrição correta da observação específica de hemorragia retiniana com cisto hemorrágico central, histoplasmose ocular, coriorretinite e doença de Stargardt. Os resultados dos alunos eram anônimos, de modo que os avaliadores não sabiam qual estudante de medicina estavam avaliando, nem se tratava-se de um teste pré ou pós-intervenção.